O bispo de Trípoli: ”Podem me cortar a cabeça”

“Este é o ápice do meu testemunho.” O drama da Líbia está nas palavras que se somam ao pranto do padre Giovanni Innocenzo Martinelli. Ele ainda está em Trípoli, como vigário apostólico naquela Igreja que leva o nome do santo com o qual compartilhou os votos: Francisco de Assis. Ele já é o último italiano que optou por permanecer naquela terra aonde chegou em 1971, de Camacici, vilarejo de San Giovanni Lupatoto, no Veronese.

A reportagem é de Angiola Petronio, publicada no jornal Corriere della Sera, 17-02-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

A sua família era de sobreviventes justamente daquela Líbia, onde Giovanni nasceu, em El Khadra, no dia 5 de fevereiro de 1942. Lá, tornou-se frei. E nunca mais a deixou. O padre veronense Martinelli mostra-se recalcitrante em relação ao retorno à Itália, imposto pelo governo, também aos diplomatas. “Porque – diz ele em um longo telefonema com o Corriere del Veneto – a minha comunidade está aqui. Como posso desistir? Seria uma traição…”.

“Esse – explica – é o fim da minha missão. E se o fim deve ser testemunhado com o meu sangue, o farei.” Obstinado até o martírio. Dom Martinelli cita São Francisco. “Eu dissera: quem quer ir entre os sarracenos, deve deixar tudo…”. Aqueles “sarracenos”, que nada mais eram do que os muçulmanos de hoje.

Os cursos e os recursos da história não poupam nem mesmo os freis. O padre Martinelli é um general sem legião. Porque, daqueles 150 mil batizados que ele encontrou Líbia quando chegou, agora não restaram nem mesmo 300.

O padre Martinelli celebrou a missa nessa segunda-feira. E o seu testemunho, mais do que um testemunho, torna-se o testamento de um homem que naquelas ruas de Trípoli, onde uma vez ele caminhava vestindo o hábito, agora é parado para ouvir dizer: “Você é contra o Islã“.

“Na igreja, vieram me dizer que eu devo morrer. Mas eu quero que se saiba que o padre Martinelli está bem, e que a sua missão poderia chegar ao fim. Vi cabeças cortadas e pensei que eu também poderia ter esse fim. E, se Deus quiser que esse fim seja a minha cabeça cortada, assim será, mesmo que Deus não busque cabeças cortadas, mas outras coisas em um homem… Poder dar testemunho é uma coisa preciosa. Agradeço ao Senhor que me permite fazer isso, até com o martírio. Não sei até onde esse caminho vai me levar. Se me levar à morte, isso significa que Deus escolheu isso para mim… Daqui eu não saio. E não tenho medo.”

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